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de livro e lua

Vou aproveitar meu momentâneo sucesso de visitas (na maior cara de pau, convidei a todos por e-mail ) para interromper o post sobre Pão & Poesia (quem não leu faça o favor de descer ao post anterior). A motivação é boa. Quero fazer um convite - mais um (voltei cheia de energia, percebeu?) (e cheia de parênteses!!!)

É o seguinte: estou a fim de entrar em mais uma aventura: fazer outro livro de blogueiros. Desta vez, com o que me ensinou a experiência anterior, sem grandes pretensões. Nada de grandes tiragens. Só grandes emoções, grandes participações e um gostoso vôo de muitas asas!

Então, fique sabendo: você está convidado a participar do segundo livro coletivo, saído direto dos blogs! Se estiver interessado, entre em contato comigo: lobamulher@uol.com.br.

(ainda vou falar muito sobre isso. me aguarde!)



Outra coisa: a lua está linda! Isso sim é um belo convite à poesia! Seguindo minha mais nova decisão de não fazer literatura, mas sem condições de segurar o bichinho do poema, deixo você com as

promessas da lua

a lua cheia
derramou-se em minha cama
e a nudez de alma
expandiu-se nos lençóis

aconteceu:
o desejo dele
explodiu em mim

jurei-lhe eternidade
e escorri-lhe suculenta
pelos cantos da boca

agora
viro e desviro o ontem
na busca
do que prometi

o que faço
com os olhos que prendi?



Acabou não!

Se você não leu o post anterior, corra lá. Demora (estou prolixa), mas vale a pena!

Beijos enluarados!!!!

Midi: a lua e eu

Pão & Poesia

Existe uma velha teoria de que o povo gosta de qualquer coisa. Teoria cretina. Já está provado que o gostar de um povo está diretamente ligado às oportunidades que lhe são oferecidas. Talvez interesse a algumas classes obliterar o espírito crítico e a capacidade contestadora do povo, oferecendo-lhe oportunidades reduzidas de conhecimento e cultura, como bem fazia César, imperador romano, com sua política de "pão e circo". Mas existem outras classes interessadas em oferecer mais do que fogo fátuo. E é de uma destas classes, especificamente, que quero falar. A classe dos poetas, aqueles que acreditam que pode se fazer a revolução através do conhecimento, da cultura, da Poesia.
Há alguns meses, um destes poetas resolveu ir um pouco além desta crença. Arregaçou as mangas e saiu em busca de reverter a expressão romana "panis et circencis" - e não apenas porque é uma alusão preconceituosa em relação à bela arte do circo. Que o pão é nosso alimento básico já está comprovado. Mas o poeta quis também provar que na diversão pode se incluir conhecimento, contestação, ativismo e cultura. Diovvani Mendonça, o poeta do "Poeminhas para matar o tempo e distrair dor de dente", fez-se presente no seu tempo e levando a sério sua crença de que é preciso "dar uma injeção de poesia nas artérias da realidade", associou-se à MIXPAN Industria e Comércio e colocou a Poesia na mesa do café da manhã da população de uma grande cidade mineira chamada Contagem. O projeto é maravilhosamente inovador. Trata-se de entregar o pão embalado em Poesia. E assim, uma população inteira está começando o dia com alimento para o corpo e para o espírito.
Mas Diovvani, o nosso poeta inovador, não quer apenas divulgar a Poesia. Quer também, e principalmente, divulgar a poesia que se faz à margem das grandes editoras e dos meios de comunicação de massa. Para dar sustentação ao projeto, convidou alguns poetas novos para criar o grupo. Um grupo, no qual orgulhosamente me incluo, formado por poetas blogueiros que se encarregam de multiplicar a idéia. E a idéia é ampliar o número de poetas e poemas, divulgando o projeto e convidando a todos para dele participar.
Neste momento o meu convite é:
- divulgue, por todos os meios que estiver ao seu alcance, o Blog Pão & Poesia e contribua para inserir a Poesia no hábito de leitura da nossa população
- envie o seu poema para o e-mail pao.poesia@yahoo.com.br e participe efetivamente da "injeção de poesia na realidade" do dia a dia de pessoas comuns
- multiplique a idéia, criando também em sua comunidade uma associação que possa diminuir a distância entre povo e cultura

Então, estamos combinados. A partir de agora contaremos com a sua colaboração - participando, divulgando, multiplicando o Pão & Poesia! Para outras informações, entre em contato pelo e-mail: pao.poesia@yahoo.com.br

Ainda: Pensa que as inovações do poeta Diovvani param por aqui? O moço é um furacão! Está envolvido em vários outros projetos inovadores e todos ligados à literatura. Me aguarde. Daqui a pouco volto com mais novidades deste empreendedor da palavra!


volta e meia

Vou te contar:

1.
Cansei de sofrer. Chega de tentar fazer literatura. Credo, o parto é dificil demais e estou com paciência de menos para ficar escrevendo, lendo, deletando, escrevendo de novo. Tudo isso para no final parir um texto razoável - destes textos que deixam pairando sobre a gente o substantivo mediocridade. E não pense que estou querendo elogios. Medíocre é médio e estar na média, embora não vá me satisfazer nunca, é melhor que ser sofrível. Sei que você é meu amigo e quer me ver com a estima alta. Mas se existe algo que tenho de sobra é autocrítica e senso quase bom. E como se não bastassem as minhas próprias cobranças, tenho ainda a constatação: já participei de vários concursos literários e nunca ganhei nenhum. Sou sempre pré-selecionada, mas só fico na bendita média.
Então, o combinado é o seguinte: daqui para frente, volto a ser a escrevinhadora de blog que sempre fui. Nada de surtos literários nem preocupações com linguagem e forma. Meu blog vira o diário que sempre foi e pronto. E a forma de me comunicar com você continua sendo em verso ou prosa, mas sem pretensões literárias.

2.
Para fechar o ciclo pseudo-literário em que estive, resolvi publicar um livro. Mais por insistência de alguns queridos amigos, em especial um certo poeta, do que por vontade própria. E porque o certo poeta insistiu, dei-lhe o trabalho duro. Está selecionando o que tenho de melhor e que vale a pena ser publicado. Portanto, muito em breve o cenário livresco nacional ganhará mais um livrinho de pequena tiragem.

3.
Eu me importo muito com as interpretações que meus textos possam provocar. Gosto quando elas são diversificadas. E gosto quando sou elogiada. Sou narcisista, adoro ser paparicada e não nego. Antes, eu me orgulhava de ser sedutora, gostosa, coisa e tal. Hoje, quero ser interessante, divertida, etc. Não porque tenha evoluido, mas porque o tempo é amigo do bom senso e a lei da gravidade um fato indiscutíivel. Então, é preciso mudar os adjetivos, sob pena de cair no ridículo. Mas, no texto passado, ser elogiada não foi um dos objetivos. Quando eu disse que não era lida como gostaria, quis dizer o seguinte: quero ter o meu texto desconstruído. Inteiramente. Não importa como cada um lê o que eu escrevo. Importa que eu tenha provocado alguma reação. E se esta reação é coerente com a minha intenção, ponto para mim. Se não é, ponto maior ainda. Sinal que consegui provocar outras leituras.

4.
Se meu blog não é nem pretende ser uma página literária, posso fazer dele também um canal de informações literárias. É o que farei, no próximo post.

5.
Para terminar, eu poderia colar aqui o comentário do Fábio ( te adoro, viu?) - no que diz respeito à leitura. Concordo inteiramente. Fui uma educadora anarquista, sou uma leitora anarquista. E serei uma escrevinhadora de qualquer coisa (leia: abobrinhas enfeitadas e às vezes enigmáticas). Importante mesmo é que você, leitor ou leitora, continue me desconstruindo para que eu possa me reconstruir. Sempre.

6.
E agora, de volta às origens, um beijo de loba. Agradecido e cheirando a vermelhice.



Ler e escrever: transformação

Dizem que escrever é uma arte. Pode ser. Para mim é um desafio que se renova a cada manhã. Porque quero escrever e ser lida. Lida por leitores que têm à sua disposição grandes mestres da literatura e vivem num tempo em que a comunicação ganha agilidade com a tecnologia e onde imagens substituem letras.
Sempre adorei escrever. Tenho para mim que nasci escrevendo, tal é a necessidade que tenho de juntar letras. O que já escrevi nesta vida daria para editar uma estante cheia de livros – se quantidade fosse qualidade, é claro. Pois bem, descobri que, por melhor que eu escreva, nunca serei lida como quero. E não é porque eu escreva tão mal assim. É porque tem uma doença grave e crônica no brasileiro que impede que eu seja lida. Doença esta que é combatida por mim, educadora, mas que vive também em mim, leitora. Preguiça! Isso mesmo, temos preguiça de ler.
Quando eu era professora de ensino fundamental, vivia brigando com minha criatividade para criar o hábito de leitura nos meus alunos. E por mais que eu criasse motivações, a leitura deles nunca alcançava o nível que eu achava satisfatório. Não desisti, mas também não consegui.
Um dia, lendo uma entrevista de Foucault ao Le Monde, comecei a entender esta relação escritor-leitor. E comecei a perceber, até mesmo em mim, a preguiça que todos temos de nos entregarmos a uma leitura. Esta preguiça não é privilégio do brasileiro, mas aqui ela parece ser imensurável - como alguns outros defeitos tão nossos conhecidos e tão inteiramente tupiniquins.
Comecei então a me preocupar mais com a minha escrita. Já não seria suficiente ter clareza, ter boa argumentação e abordar temas interessantes. Seria preciso levar em consideração a preguiça. Esta mesma preguiça que me fazia ler um texto em diagonal, perdendo muitas vezes a mensagem implícita e, de certa forma, desvalorizando o trabalho de quem escreveu. Seria preciso aprender a arte da síntese: escrever da forma mais interessante possível, com um menor número de letras possível.
Embora para muitos e importantes escritores não seja fundamental a opinião do leitor, a mim parece imprescindível ter uma mensagem escrita decodificada por quem me lê. Porque uma escrita, seja ela qual for, só tem sentido se alcança quem a lê. Passei então a escrever para o meu leitor, respeitando a sua preguiça, mas tentando criar nele a vontade de continuar lendo. É claro que nem sempre consigo. (Especialmente quando o que escrevo parece não ter interesse nem mesmo para mim.) Mas é preciso continuar tentando. Porque escrever e ler são atos que interagem entre si e é condição para o pensar, o crescer, o transformar.
Continuemos, pois, escrevendo, lendo, interagindo. E nos transformando através da escrita e da leitura.



* * *

Meus agradecimentos especiais a todos que me mandam e-mails, aos quais não estou respondendo. Agradecimentos também a quem está sempre por aqui. Amo vocês!

Um grande beijo e uma ótima semana a todos.

(PS. Ando tão desconectada de tempo que só agora - depois de visitar alguns blogs - estou percebendo que já é primavera. Será que não deveria estar proseando sobre flores e amores?)

Midi: La vie en rose - Edith Piaf

De volta ao passado

De repente, o convite veio a calhar.
Ando eu com uma bruta inveja de mim em outros tempos. A amiga blogueira Silêncios do coração e a querida Luma trazem o mote para uma volta ao que me interessa. O convite é para republicar um texto que foi interessante. Republico um amontoado de versos do tempo em que eu era loba erótica e fazer literatura ainda não era uma das minhas preocupações:


divina & profana

I

ardente
como pecado capital
grita em meu corpo
a louca vontade
de roubar os teus sonhos

e tatuar em teu corpo
meus desejos divinos


II

invado tua razão
e escrevo em tua crença:

o paraíso é logo aqui
onde começa
o meu cio


III

nem santa
nem puta

só dilacerada
pelo desejo de ser boca
na redenção de tua carne


(nem eu acredito que fiz isso há pouco mais de um ano. parece que já se passaram séculos!)


Um beijo vermelhinho com gosto de déjà vue


Brincando com a Poesia

Começo (sem brincar) com Cecília Meireles



"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua"



pra dizer que estou na chuva e quero me molhar. Se a chuva for de poesia, tanto melhor para quem não perdeu a esperança de ser musa.

Então vamos brincar de poetar?




liberdade de amar

eu te amo
mas quero me declinar
da responsabilidade
de ser tua

quero me sentir
muito além da utilidade
que teu amor eternizou
no lado oposto da cama
quero me sonhar
para além das correntes
que consubstanciaram
tuas juras de amor

eu te amo
mas amo sobretudo
a liberdade
de esvaziar o quarto
limpar as paredes
e colocar na cama
a porção de silêncio
que trará de volta
a saudade de ti

eu te amo
mas amo ainda mais
a liberdade de te amar

* * *

Minha gente querida, andei prometendo o que não poderia cumprir. Ainda não consegui retomar o ritmo de blogueira. Não por falta de tempo ou de vontade. A falta é de alguma coisa que não sei o nome. Talvez eu tenha perdido o hábito de andar por tantos caminhos, por isso eles me parecem longos demais, difíceis demais, escuros demais. Mas sei também que vou conseguir acender minhas luzes. Então, me aguardem. Enquanto isso, continuem gostando de mim porque amo vocês. E vamos poetar!

Um beijo e carinho pra todos.



Toda mulher merece!


Após todos os movimentos feministas, a mulher ainda precisa carregar pedras para sobreviver. É fato que ela já pode se candidatar à maioria dos cargos – públicos ou privados. Já está também comprovada sua competência, seu senso de responsabilidade, sua criatividade e seu alto grau de empreendedorismo. Até já é aceita como parceira profissional dos antigos donos do poder - embora os homens ainda se calem quando ela entra em suas rodinhas. Embora, também, sejam sarcásticos e irônicos em várias situações cotidianas. E embora os salários tenham uma pequena diferença ainda não ultrapassada!
No âmbito profissional, parece que eles aprenderam. A maioria sente-se moderna: não gosta de feminismos nem machismos. São cavalheiros, mas sem paternalismos. São machos, mas sem ostentação. Tudo isso parece lindo, no âmbito profissional. Mas em casa, como são eles?
Existem algumas exceções, mas a regra é poderosa: sentem-se no dever de dividir as tarefas domésticas, mas numa proporção ainda muito pequena. Porque casa, comida, filhos e roupa lavada continua sendo uma responsabilidade feminina. Em casa, o olhar do homem difere quilômetros do olhar feminino. Se o homem chega e encontra uma revolução na ordem doméstica ele se senta e vai ver jornal. Afrouxa a gravata, joga-se no sofá e solenemente ignora até mesmo a algazarra que o faz aumentar o volume da televisão.
Após o jornal, passa pela cozinha e a lembrança do dever o faz perguntar: quer ajuda, querida? (como se fosse mesmo necessário perguntar!) Um olhar da mulher, entre feroz e resignado, e ele começa a recolher as tralhas espalhadas pelo chão. E sente-se ajudando. Pára por aí. O esforço de abaixar e levantar tirou-lhe a energia. É mais interessante ser pai – e lá se vai ele brincar de rolar no chão com as crianças.
A mulher, que chega junto e encontra a mesma situação, joga a bolsa sobre o sofá e começa sua rotina. Em pouco tempo a casa torna-se um lar confortável e as crianças, bem alimentadas, sorridentes, de dever feito e muito acarinhadas, vão para a cama. Ainda sobra tempo para um banho de chuveiro, uma boa olhada no espelho e um sonho a mais. O homem sente-se feliz com a paz reinante, feliz em ter uma esposa competente e a noite termina na cama. Ele cheio de energia, ela cheia de amor. Mas cansada.
Diante de tudo isso, que não é história para boi dormir, chego à seguinte conclusão: toda mulher merece ter também uma esposa!




PS. na hora de procurar uma midi, encontrei Cotidiano de Chico. Ouvi novamente com toda atenção. Esta letra me parece ter sido feita como uma crítica à mesmice cotidiana, onde é evidente o fastio masculino em relação à vida conjugal - vida que não se ajusta mais aos nossos tempos. Mas se trocarmos os papéis e as situações, a letra se encaixa na vida moderna. Claro, a voz enfastiada passa a ser a feminina!




Proseando

Quinta-feira, quatro da tarde.
O que pode haver de interessante numa quinta-feira às quatro da tarde? Alguém pode estar descobrindo ter ganhado na loteria. Outro alguém pode estar perdendo o chão ao receber um diagnóstico inesperado. Alguém pode estar subindo a rua sonhando com declarações de amor.
Não acredite, leitor, que seja eu uma destas pessoas. Para mim, esta quinta está sendo como todas as últimas. A calculadora me olhando, a tela do computador cheia de letras que meus desejos não reconhecem e minha consciência gritando que gastei na livraria muito mais do que deveria (ando pobre demais, lendo demais e sonhando de menos)
Mas às quatro da tarde de uma quinta é também tempo de perceber que meus cabelos estão excessivamente compridos, minha cabeça vazia de novas idéias e que ando brigando com uma louca vontade de criar uma máquina do tempo. O que faria você se pudesse entrar numa geringonça do professor pardal e voltar alguns passos no caminho? Será que deixou lá atrás algo que precisa ser terminado, mudado, reencontrado?
Agora acredite, leitor, se fosse eu a senhora do tempo não mudaria nada. Faria tudo novamente. Mas amaria mais, choraria mais, me perderia mais. E chutaria com força algumas pedras do caminho, sem medo de quebrar o pé. E são estas pedras que quero chutar agora e aprender a ciência de deslizar. Porque deslizar é encarar a vida sem pesos e descobrir que as pétalas murcharam para dar lugar às sementes.
Quinta-feira, cinco da tarde. Levei uma hora escorrendo entre a paisagem sempre igual e a falta de inspiração.













nova ordem

quando a vida
(que se supunha
porta de saída)
vira boca de túnel
e a luz
(que se supunha
feérica)
apaga o caminho
foge-se do real
foge-se do palpável
foge-se de si mesmo

mas os pés
um dia cobram
o chão

é quando
o olhar se alonga
e reconhece-se
(no outro lado do espelho)
não o eterno
nem o divino
mas o humano

então inicia-se
o imenso
e necessário trabalho
de crescer um pouco mais
e em cada movimento
não sabido
descobre-se
a veia que pulsa
rigorosamente viva

é tempo
de acordar o ar
ainda não respirado

e caminhar


* * *

Finalmente, de volta. Ainda tropeçante, mas com muita vontade de chegar no espaço de todos.
Agradeço muitíssimo pelo carinho e pela força. Um beijo e ótimos dias!



Midi: Wave - Daniel Jobim e Luiza Jobim