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Toda mulher merece!


Após todos os movimentos feministas, a mulher ainda precisa carregar pedras para sobreviver. É fato que ela já pode se candidatar à maioria dos cargos – públicos ou privados. Já está também comprovada sua competência, seu senso de responsabilidade, sua criatividade e seu alto grau de empreendedorismo. Até já é aceita como parceira profissional dos antigos donos do poder - embora os homens ainda se calem quando ela entra em suas rodinhas. Embora, também, sejam sarcásticos e irônicos em várias situações cotidianas. E embora os salários tenham uma pequena diferença ainda não ultrapassada!
No âmbito profissional, parece que eles aprenderam. A maioria sente-se moderna: não gosta de feminismos nem machismos. São cavalheiros, mas sem paternalismos. São machos, mas sem ostentação. Tudo isso parece lindo, no âmbito profissional. Mas em casa, como são eles?
Existem algumas exceções, mas a regra é poderosa: sentem-se no dever de dividir as tarefas domésticas, mas numa proporção ainda muito pequena. Porque casa, comida, filhos e roupa lavada continua sendo uma responsabilidade feminina. Em casa, o olhar do homem difere quilômetros do olhar feminino. Se o homem chega e encontra uma revolução na ordem doméstica ele se senta e vai ver jornal. Afrouxa a gravata, joga-se no sofá e solenemente ignora até mesmo a algazarra que o faz aumentar o volume da televisão.
Após o jornal, passa pela cozinha e a lembrança do dever o faz perguntar: quer ajuda, querida? (como se fosse mesmo necessário perguntar!) Um olhar da mulher, entre feroz e resignado, e ele começa a recolher as tralhas espalhadas pelo chão. E sente-se ajudando. Pára por aí. O esforço de abaixar e levantar tirou-lhe a energia. É mais interessante ser pai – e lá se vai ele brincar de rolar no chão com as crianças.
A mulher, que chega junto e encontra a mesma situação, joga a bolsa sobre o sofá e começa sua rotina. Em pouco tempo a casa torna-se um lar confortável e as crianças, bem alimentadas, sorridentes, de dever feito e muito acarinhadas, vão para a cama. Ainda sobra tempo para um banho de chuveiro, uma boa olhada no espelho e um sonho a mais. O homem sente-se feliz com a paz reinante, feliz em ter uma esposa competente e a noite termina na cama. Ele cheio de energia, ela cheia de amor. Mas cansada.
Diante de tudo isso, que não é história para boi dormir, chego à seguinte conclusão: toda mulher merece ter também uma esposa!




PS. na hora de procurar uma midi, encontrei Cotidiano de Chico. Ouvi novamente com toda atenção. Esta letra me parece ter sido feita como uma crítica à mesmice cotidiana, onde é evidente o fastio masculino em relação à vida conjugal - vida que não se ajusta mais aos nossos tempos. Mas se trocarmos os papéis e as situações, a letra se encaixa na vida moderna. Claro, a voz enfastiada passa a ser a feminina!




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