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Proseando

Quinta-feira, quatro da tarde.
O que pode haver de interessante numa quinta-feira às quatro da tarde? Alguém pode estar descobrindo ter ganhado na loteria. Outro alguém pode estar perdendo o chão ao receber um diagnóstico inesperado. Alguém pode estar subindo a rua sonhando com declarações de amor.
Não acredite, leitor, que seja eu uma destas pessoas. Para mim, esta quinta está sendo como todas as últimas. A calculadora me olhando, a tela do computador cheia de letras que meus desejos não reconhecem e minha consciência gritando que gastei na livraria muito mais do que deveria (ando pobre demais, lendo demais e sonhando de menos)
Mas às quatro da tarde de uma quinta é também tempo de perceber que meus cabelos estão excessivamente compridos, minha cabeça vazia de novas idéias e que ando brigando com uma louca vontade de criar uma máquina do tempo. O que faria você se pudesse entrar numa geringonça do professor pardal e voltar alguns passos no caminho? Será que deixou lá atrás algo que precisa ser terminado, mudado, reencontrado?
Agora acredite, leitor, se fosse eu a senhora do tempo não mudaria nada. Faria tudo novamente. Mas amaria mais, choraria mais, me perderia mais. E chutaria com força algumas pedras do caminho, sem medo de quebrar o pé. E são estas pedras que quero chutar agora e aprender a ciência de deslizar. Porque deslizar é encarar a vida sem pesos e descobrir que as pétalas murcharam para dar lugar às sementes.
Quinta-feira, cinco da tarde. Levei uma hora escorrendo entre a paisagem sempre igual e a falta de inspiração.













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