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“É meu interior que fala às vezes sem nexo para a consciência”
Clarice Lispector

Sempre fui dada a paixões indizíveis. Inexplicáveis. Apaixonei-me perdidamente por Peter Pan (ou pelo pó de pirlimpimpim). Depois, vários outros personagens assediaram a minha mente, o meu coração e os meus diários. Voei com Ícaro, perdi-me na beleza apolínea, amei Raskolnikov, abusei de Bentinho, me tornei amante de Oliver e vivi muitas outras transgressões imaginárias. Depois vieram os personagens que eu própria criei. Sempre tortos, heróis às avessas. Foi a fase das trevas iluminadas pelos ideais. Os marginalizados, os proscritos, os rebeldes. Eu me vendo neles e vivendo com eles. Enfim, vieram os normais. Descobri que a normalidade tinha mais de anormal do que eu poderia supor. E voltei a ser livre para amar como e quantos o coração desse conta.
Continuo me apaixonando inexoravelmente. Por amigos que não conheço, por poetas que nunca vi, por palavras que voam ao vento. Apaixono-me por letras, por sentimentos, pela presença, pelo carinho, por retas e curvas. Apaixono-me também por meninos rebeldes, meninas perdidas, mocinhas e bandidos, zumbis e vampiros. Pelo tudo e pelo nada. Pelo palpável e pelo inalcançável. Por mim em mim e por mim no outro.
E de laços e nós vou me completando. E se perco um, sinto-me perdendo um pedaço da carne. Se um amigo se vai, deixa uma ferida difícil de cicatrizar. E a dor chama-se saudade. Se volta, viro prazer. E a saudade faz festa de despedida.
Penso que estes elos, na sua completa inexplicabilidade, é que estimulam o meu viver. Estou exposta a eles e deles tiro o alimento que me renova diariamente. Sou parte de um coletivo e sem ele eu não existo. Nele me fecundo e floresço ser. Bicho ou gente. Mas que sente.


Se alguém, ao ler este texto, ficou com a impressão de déjà vu e agora está incomodado por achar que cometi o pecado do plágio, sossegue. Se plagiei, foi a loba de algum tempo atrás. É que este texto me parece tão atual que resolvi reescrevê-lo, com mínimas modificações. Também porque ando de namoro firme com os muitos projetos que estou abraçando – entre eles, a organização de três livros que estão ficando maravilhosos - portanto, sem tempo para cuidar do blog e dos amigos. Mas continuo apaixonada por vocês. Todos vocês!


Beijos! Muitos e todos!


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