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Encontro consigo mesma

(carta para minha mana Elis
e a quem mais interessar)

O dia é claro como tantos outros, o mundo fervilha ao seu redor e você o sente apenas superficialmente. Há dias você está desacordada e nem sequer tem a aliviante pretensão de ser a bela adormecida. Porque você sabe, não há príncipe encantado que vá te acordar. No fundo, bem lá no fundo, você sabe mais: o passarinho que fará sua manhã está preso dentro desta sua pouca vontade de ver e de ouvir e de estar e de ser.
Onde foi que você se perdeu?
Não, você não se perdeu. Você está, profundamente, esquecida de si mesma. Como se guardada em esquecimentos conseguisse anular os passos inexoráveis desta vida que está passando por você. Esta mesma vida que em outras épocas foi sua amiga íntima. Mas você sabe que a vida não é uma amiga que ama incondicionalmente. O amor da vida é um amor exigente. Ele cobra cada minuto desperdiçado, cada dia mal vivido. E seus dias, seus minutos estão sendo desperdiçados nesta falta de coragem de ver-se e querer-se e aceitar-se. Mas não há como mudar sem aceitar suas próprias limitações. Sem ser tolerante consigo mesma. Sem o grito que estilhaça o reflexo do espelho. E sem entender que no ato de perder você ganha a possibilidade de ganhar. Sem perdas não há ganhos que possam ser valorizados.
Por isso, é preciso rasgar a pele. Despir a alma. Expor-se a si mesma e promover seu próprio encontro. Coragem. Abra a concha onde se esqueceu e comece a fazer novas escolhas. Mas sem atropelos. Lembre-se de Kafka: "Tenhamos paciência - uma longa, interminável paciência - e tudo nos será dado por acréscimo." E nunca se esqueça de que a vida só se justifica quando você faz da sua caminhada um eterno garimpo do amor.
Siga em frente. Amando-se. Amando. Sempre e profundamente.



* * *



PS.
lu, adoro você aqui!!!


midi: tocando em frente - almir sater

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