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Mais amar

(ou Um quase plágio)

Quase seis da manhã. Preguiça e sono. Mas é preciso começar a luta diária de sair - sem traumas - dos aconchegantes braços de morfeu. Uma fagulha de realidade me lembra: é dia dos namorados. O vazio do meu lado direito me provoca: dia de vestir-se de poeta fingidora e fazer nascer aquele poema de amor - lírico e divino - que nunca me engravidou.
(Tenho neurônios. E mais de dois. Posso senti-los - ainda meio adormecidos, gripados e afônicos - trombando uns nos outros. Certeza idiota. Não consigo fazê-los funcionar a esta hora. Sem chances, até mesmo de tentar, o tal poema de amor.)
Mas é dia dos namorados. Olho o escuro do quarto e a única inspiração é plagiar, descaradamente, o D.Lê. Imagino o cheiro de café e me enrosco nas cobertas. Preguiçosa, busco na memória os homens que amei. Mas não há passado no verbo amar. "Amores serão sempre amáveis" - grita em plágio o lado esquerdo do peito. São amáveis, mas não amantes - a carne, em solitária vigília, responde. Então penso nestes homens que despertam a minha inquietude. E o amor ao amor sobrepõe-se à vontade de poema.
É tempo de conjugações no presente. Tempo de mais amar.

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